UNIDADE PASTORAL DA LOUSÃ

Vigília pela paz

VIGÍLIA PELA PAZ

 

Unidade Pastoral Lousã

2024

  

14 fevereiro de 2024

 

 

 

Na Igreja Matriz

           

14 de fevereiro de 2024. Desde 7 outubro do ano passado, em apenas 4 meses, cerca de 28.000 pessoas perderam a vida em Gaza, incluindo 11.000 crianças. Na Ucrânia, o número chega aos 10.000, mas pensa-se que o número é ainda maior. De momento estimam-se cerca de 6 milhões de refugiados da Ucrânia, 1.9 milhões em Gaza, que é cerca de 85% da população da faixa.

Estes são os valores que nos chegam pelos meios sociais nos últimos meses, mas que, infelizmente, apenas adicionam aos já milhões de refugiados que chegam à Europa pelo mar Mediterraneo, e sem contar com as milhares de mortes por dia em outros pontos de guerra, seja de que forma, pelo mundo inteiro.

 

Uma morte por si só já é demasiado grande, especialmente por violência, mas não é possível caber no coração, nem na cabeça, os números que nos chegam todos os dias. Só nos resta perguntar, paralisados, impotentes, ‘Que posso eu fazer Senhor?’

 

 

Sugestão Música: Entrega

 

‘Que posso eu fazer Senhor?’ Iniciamos esta caminhada com esta pergunta, e convidamos cada um de vós, no caminho que fazemos juntos, a procurar no vosso coração uma resposta. Rezamos a oração de S.Francisco e iniciamos a caminhada.

 

ORAÇÃO S.FRANCISCO

Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:

consolar, que ser consolado;

compreender, que ser compreendido;

amar, que ser amado.

Pois é dando que se recebe.

É perdoando que se é perdoado.

E é morrendo que se vive para a vida eterna.

 

No 1º ponto

 

A diversidade de culturas e pessoas é uma das maiores graças que temos neste mundo. Mas a realidade da guerra é igual para todos os que a vivem. Dedicamos as próximas três paragens a dar voz a quem viveu a guerra.

 

 

Começamos com Shahar, de 33 anos:

 

“Não sabia que podia haver tamanha crueldade. Há a guerra e depois… há isto”, afirmou à Lusa Shahar, uma israelita de 33 anos que atualmente vive em Espanha e que estava em Israel de férias

Shahar e uma das suas irmãs, de 29 anos, esconderam-se durante 35 horas menos de cinco quilómetros da fronteira com a Faixa de Gaza —, onde também estava o pai, num outro abrigo, sem qualquer informação do que se passava no exterior. A família acordou pelas 06h30 de sábado com os alarmes e sons de tiros, o que levou Shahar a perceber rapidamente que “não era só mais um rocket” dos palestinianos. As duas irmãs esconderam-se num quarto seguro, uma habitação à prova de foguetes mas onde não se podiam trancar. “Fechámos todas as janelas, apagámos as luzes e agarrámos em facas de cozinha”, relatou a israelita. Sem o exército por perto, os cerca de 450 habitantes do kibbutz, num total de 160 famílias, defenderam-se a si próprios: um grupo de 12 “homens incrivelmente corajosos”, entre os 20 e os 70 anos, pegou em armas e impediu o avanço dos atacantes. Homens que deixaram as famílias para trás e enfrentaram o perigo para nos proteger a todos. Infelizmente, um morreu, outro foi raptado e soubemos agora que morreu, dois ficaram feridos, um deles teve uma perna amputada”, lamentou. Os combates prolongaram-se por mais de sete horas. No interior da casa, as duas irmãs tinham tomado uma decisão: “Sabíamos o que era preciso fazer. Não seríamos levadas como reféns”, descreveu.

Com uma mão dada e a outra a segurar uma faca, as irmãs comprometeram-se a matar-se uma à outra caso os militantes dos Hamas as encontrassem. “Despedimo-nos uma da outra, mandámos mensagens à nossa mãe e outra irmã [que estavam fora do país] e prometemos que nos encontraríamos na próxima vida”, relatou. Mais tarde, as irmãs conseguiram juntar-se ao pai. Eventualmente, o exército israelita chegou ao kibbutz e conseguiu terminar o ataque. Depois de os militares dizerem que já era “mais seguro” sair das casas, os três fugiram. Pegámos no nosso cão e fomos para o carro. Quinze minutos depois, o exército avisou que ainda havia terroristas no local e que devíamos voltar a abrigar-nos, mas nós já estávamos na estrada e decidimos continuar”, contou, descrevendo o que viu na estrada: sangue, roupas, sapatos. Shahar relatou, horrorizada, que os atacantes queimaram famílias inteiras vivas. “Uns amigos nossos foram raptados, com uma criança de três anos e um bebé de seis meses”, disse, a chorar. Com o passar do tempo, chega mais informação sobre o que aconteceu a amigos e vizinhos. “Todos os dias sabemos de mais pessoas que morreram ou foram raptadas. A lista continua e continua”, lamentou. Os três abrigaram-se em casa de familiares, no centro do Israel, onde passaram uma noite e, no dia seguinte, foram para o aeroporto, para tentar fugir do país. “O aeroporto estava cheio, as companhias tinham cancelado os voos. Queríamos encontrar um voo com três lugares para qualquer lado”. Acabaram por conseguir embarcar para Lisboa, onde chegaram na terça-feira. O pai de Shahar adoeceu entretanto, com febres fortes. A família espera reunir-se em breve e depois irão decidir “de onde podem ajudar melhor”. A prioridade agora é deixar os pais num local seguro e as três irmãs admitem regressar ao seu país.

“O meu medo é que agora que Israel passou para modo de ataque, a única coisa que as pessoas vão ver é isso: Israel a bombardear Gaza. Mas elas precisam de saber o que levou a isto, o que nós vivemos”.

 

 

 

No 2º Ponto

Hanadi Gamal Saed El Jamara, de 38 anos, diz que o sono é a única coisa que consegue disfarçar a fome dos seus filhos. Atualmente, a mãe de sete menores mendiga comida nas ruas cobertas de lama. Tenta alimentar os filhos pelo menos uma vez por dia enquanto tenta cuidar do marido, doente com cancro e diabetes. Conta que os filhos “estão fracos, têm sempre diarreia e a cara amarela”. “A minha filha de 17 anos diz-me que sente tonturas e o meu marido não come.”

 

Música: Prece de uma criança

 

Meu Pai ouve esta prece
De quem tem bom coração
De rezar ninguém se esquece
Nos momentos de maior aflição

Quero que voltes à terra
E ser o Teu mensageiro
Vou subir aquela serra
Para ver se Te vejo primeiro

Quero andar sempre contigo
E rezar de joelhos
Ser o teu melhor amigo
Ser a mim a quem pedes conselhos

Alugar uma aeronave
P’ra voar até ao céu
Despir o véu da terra
Acabar a guerra
E ser um lugar só meu e teu

Faça-se a Tua vontade
Viver a verdade, minha vida é Tua
Toma a minha liberdade
Viver a verdade, minha vida é tua

Meu Pai ouve esta prece
De quem tem bom coração
De rezar já não me esquece
Senhor ouve esta oração

No Castelo

 

“Para a nossa aldeia, o início foi em 17 de fevereiro de 2022. Eu estava a ter aulas online quando ouvimos pela primeira vez explosões a dez quilômetros de distância. Começaram então a cair em ruas próximas. O nosso professor mandou-nos a correr para o abrigo. Quando cheguei ao corredor, ouvi uma explosão forte. Só consegui sentar perto da parede, fechar os ouvidos e abrir a boca para não levar o choque da onda de choque. Corremos então para o porão, fechando a porta apenas para ver fragmentos voarem pelo porão, pelo telhado e pelo asfalto. Eu chorei. Foi uma manhã típica e aqui estamos.

O bombardeio continuou nos dias seguintes. No dia 21 de fevereiro, acordei com a explosão mais poderosa. Apenas um grande estrondo. Os pássaros voaram e depois houve silêncio. Parecia o fim do mundo. Não tivemos tempo de ir ao porão, então minha avó e eu nos escondemos atrás de duas paredes. Mais tarde naquele dia, tivemos uma sessão com um psicólogo no clube da aldeia quando ouvimos uma forte explosão. Percebi que estava em algum lugar perto da minha casa. Lembro-me de tudo aos pedaços: como cheguei ao meu quintal, como não havia janelas na cozinha de verão, como uma janela da casa caiu completamente com todas as vidraças, como entrei no meu quarto e vi um pequeno estilhaço que havia perfurado a janela e estava pendurado nas cortinas. Fomos então nos esconder no porão de um prédio de apartamentos. Camas, um fogão e uma mesa estavam ali dispostos desde 2014, quando as hostilidades começaram na nossa região. Eu estava na 2ª série naquela época. Lembro-me de como era na nossa aldeia, com tanques disparando das nossas ruas. Lembro-me de como éramos felizes quando crianças, sentados no mesmo porão, quando uma senhora nos trouxe milho cozido. Era como um jogo onde os tanques pareciam legais. Acostumamo-nos com algo voando sobre nós. Não havia nada que pudéssemos fazer.

 

Implorei à minha avó, que estava em casa, que fosse embora porque eu estava sozinha e com medo de não conseguir lidar com tudo mentalmente. Ela é minha cuidadora principal desde os meus cinco anos. Vovó chegou ao oeste da Ucrânia em 4 de abril. Em meados de maio, descobrimos que restavam apenas duas paredes de nossa casa. E agora não há nada além de pedras. Passei toda a minha vida de 16 anos lá e tudo foi destruído em questão de meses. . I haven’t heard anything from my mom in eight months. Há também uma sensação de nostalgia. E se eu não ficasse sentado aqui agora e, em vez disso, fosse dar um passeio no parque em casa? Ou então eu estaria sentado no meu quarto? Concluímos sua reforma pouco antes da guerra.

 

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‘O que posso eu fazer Senhor?’ Dar graças é um bom começo. Dar graças pela família que temos, ainda que as coisas não sejam como queríamos. Dar graças pela vizinha, que pode ter feito um comentário que não tenhamos gostado, dar graças pelo gato, que hoje de manhã virou o lixo… Dar graças por aquilo que tomamos como garantido, e é aquilo que quem vive a guerra, o desespero, a fome mais desejam.

 

Neste momento, é muito pouco o que podemos oferecer, é muito pouco o que podemos fazer, mas é tudo o que temos..

 

 

Música: Agora é hora

 

Agora é a hora

De oferecer todo o meu ser

Nas tristeza, na pobreza

Na alegria de cada dia

 

É tão pouco o que oferecemos

Mas é tudo o que temos (2x)

 

Agora é a hora

De dizer obrigado

Ao Senhor que é amor

Nossa vida, nosso calor

 

Agora é hora

 

 

Caminhamos agora até à Ermida, para o momento final desta caminhada.

 

Na Ermida

 

‘Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. Jesus di-lo claramente. Quando manda os apóstolos chamar para o banquete daquele senhor que o preparara, diz: «Ide e trazei todos», jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos. «Padre, mas para mim que sou um desgraçado, que sou uma desgraçada, também há lugar?» Há espaço para todos! Todos juntos… Peço a cada um que, na própria língua, repita comigo: «Todos, todos, todos». Não se ouve; outra vez! «Todos, todos, todos». E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços.’ (Papa Francisco, JMJ 2023)

 

O nosso Santo Padre dizia nas Jornadas Mundiais da Juventude que a Igreja é de todos, todos, todos. Isto inclui quem ordena o lançamento dos mísseis, quem pensa a guerra, quem deseja a guerra. Procuremos também no nosso coração a força para rezar por estes, para que o Espírito, tal como os sírios que carregamos, iluminem o caminho que eles fazem, e para que tenham a coragem de cessar fogo.

 

‘O que posso eu fazer Senhor?’ Apenas nos resta rezar. Rezar é lembrar, rezar é partilhar a cruz do outro.

‘O que posso eu fazer Senhor?’ Apenas nos resta ser construtores, em vez de destruidores. Construtores de pontes, unir margens distantes no nosso dia a dia. Apenas nos resta, em comunidade, ser degrau de uma escada para ajudar quem necessita a ver para além dos muros que se constroem. Convidamo-vos a colocar os lenços que vos damos na escada à nossa frente. Coloquem como prece pelas vítimas de guerra, como compromisso de ser ponte, de ser escada, como sinal que rezaram por quem mais necessita…

 

 

 

 

 

MÚSICA DE FUNDO

 

Finalizamos esta caminhada com uma música cantada em Israel há exatamente cinco anos, com o propósito de unir pessoas de todas as esferas da vida. No vídeo lê-se: ’A 14 de fevereiro de 2018’ o grupo de Koolulam convidou 3.000 pessoas que nunca se tinham conhecido antes, a cantar na cidade de Haifa, em Israel, em 3 línguas diferentes, em celebração da coexistência.

 

Em honra deste sonho, cantado pelo povo Israelita, abraçamo-nos todos enquanto ouvimos a música.

 

 

Música: One Day (Um dia)

 

Às vezes deito-me sob a lua

E agradeço a Deus estar a respirar

Eu rezo, não me Leves logo

Porque estou aqui por uma razão

 

As vezes eu me afogo em minhas lágrimas

Mas nunca deixo isso me derrubar

Então, quando a negatividade envolve

Eu sei que um dia tudo vai mudar porque…

 

Toda a minha vida eu tenho esperado por

Tenho orado por

Para as pessoas dizerem

Que não queremos lutar mais

Que não haverá mais guerras

E os nossos filhos vão brincar

 

Um dia …

 

Um dia tudo vai mudar

Trate as pessoas da mesma forma

Pare com a violência

Abaixo o ódio

Um dia seremos todos livres

E orgulhosos disso

Sob o mesmo Sol e cantando músicas de liberdade

 

Amanhã

O dia virá