Amigo disponível. Sempre, a qualquer hora e momento, em qualquer lugar, sem ser necessário esperar, marcar vez ou reservar hora, Jesus está disponível, à nossa espera, aguardando o nosso diálogo, a nossa presença, a nossa amizade. Dentro de nós, em cada sacrário, aqui, ali, em todo o lado, de dia e de noite, temo-Lo sempre disponível. Aliás, é Ele próprio que vem ao nosso encontro, que convida ao diálogo, que deseja a nossa companhia, que quer a nossa presença, que Se alegra connosco.
Amigo generoso. De facto, o seu Coração dá tudo e dá-Se todo. Generoso em grau infinito, não guarda nada para Si mesmo. Dá-nos seu Pai, sua Mãe, seu Espírito, sua Igreja, seus sacramentos, sua vida, sua paz, sua alegria, sua glória, sua vida eterna, sua bem-aventurança. Tudo o que é d’Ele nos pertence por herança, é dádiva do seu Coração generoso.
Amigo delicado. Não força, não violenta, respeita sagradamente a nossa liberdade. Bate à porta mas aguarda que abramos a porta para que Ele entre. Seduz, convida, atrai, mas sempre com divina delicadeza, sem forçar, aguardando pacientemente a nossa resposta, a nossa entrega, o nosso sim. Delicado no trato, nas palavras, no convite, nos gestos de amor, no modo como nos quer cativar e conquistar o coração e a amizade.
Amigo atento. Nada do que é nosso Lhe é estranho. Não fica indiferente, não é um amigo que não nos preste atenção. Cuida de nós, vela por nós, protege, ampara, envia ajuda e socorro através da Igreja e dos outros. Nunca O encontramos distraído, sem paciência, desatento aos nossos problemas e dificuldades. O modo de nos ajudar, de vir até nós nem sempre é aquele que desejávamos. Mas Ele, com o seu Coração amigo e atento, sabe bem o que faz e como faz.
Amigo exigente. O amor, quando é sincero, puro, perfeito como o do Coração de Jesus, é exigente. Neste sentido, Jesus não é um «amigo fácil», adocicado, melado. Quer tudo, quer-nos todos. Segui-Lo é entrar pela porta estreita, é aprender a saber perder para ganhar, a saber morrer para viver, a caminhar com a cruz cada dia.Os seus maiores «amigos», começando por sua Mãe e pelos seus Apóstolos, não tiveram a vida facilitada. Através dos séculos, ser «amigo de Jesus», corresponder com fidelidade ao seu Coração amigo tem sido, para todos os que aceitam esse desafio, algo de difícil, por vezes doloroso, algumas vezes até ao dom da vida no martírio. A amizade exige riscos, tem interpelações grandes, pede muita generosidade. A lógica do amor, da amizade evangélica parece ser esta: quem ainda não deu tudo, ainda não deu nada. Não podemos negar nada Àquele que, por ser Amigo divino, nos dá tudo e Se dá a Si mesmo. Viver a sua amizade, corresponder a ela, deve significar um processo de identificação com Jesus até à cruz, à morte, ao dom da vida. Foi assim a vida dos santos, os seus prediletos, os que corresponderam mais à sua amizade, os que tentaram ter um coração mais semelhante ao d’Ele. Sentiam a sede de Jesus, de mais amizade, de mais amor, de mais oração, de mais companhia. E souberam aceitar o desafio, mesmo quando isso implicava dor, sofrimento, cruz. Sabiam retribuir a amizade de Jesus com uma amizade mais sincera, mais total, mais generosa, mesmo quando tinham de sofrer no silêncio e fazer oblação amorosa da sua vida, cumprindo o conselho do apóstolo S. Paulo: «fazei de vós mesmos hóstias vivas» (Rom 12, 1).
A nossa tentação é ter medo duma amizade deste género, que quer tudo, que pede todo o coração, todo o amor. Parece que nos assusta entregar-nos a Ele e ao seu Coração, mas é a única maneira de sermos fiéis à sua amizade. E depois vem a paz, o gozo interior, a intimidade, a consolação, a graça da união com Ele. Mesmo não sendo um «amigo fácil», é sempre o melhor amigo, o Amigo divino.
Dário Pedroso, sj (in O Coração que nos ama)